DEU A LÓGICA: Brasil despacha Argentina e vai à final
Não há esporte mais imprevisível e, também por isso, tão
amado quanto o futebol. Só ele é capaz de encher torcedores de esperança de que
seu time, por mais inferior que seja, possa superar qualquer rival. E o fato de
contar com Lionel Messi, um dos maiores gênios da bola de todos os tempos,
dava ainda mais direito aos milhares de argentinos que foram ao Mineirão de
sonhar com uma vitória épica na casa do inimigo. E ela quase veio.
Mas, na experiência de Daniel Alves, na qualidade de
Alisson, e na garra de Gabriel Jesus, que desencantou, o Brasil fez valer seu trabalho mais longevo e organizado, e
venceu a Argentina por 2 a 0. O time de Tite chegou à final
da Copa América do dia 7, no Maracanã, contra Chile ou
Peru. Já a a Argentina, que não vence nada desde 1993, amargou mais uma dolorosa
derrota e ainda terá o desprazer de disputar o terceiro e quarto lugar em São
Paulo.
Horas antes do jogo, um jornalista argentino resumiu, com a
picardia portenha, seu sentimento dividido. “Não temos a menor chance, o Brasil
é muito melhor. A última vez que vi uma diferença tão grande foi na Copa de
90”, ironizou, citando a vitória argentina por 1 a 0, com show de Maradona e
gol de Ganiggia, lance que deu vida à canção “Decime Qué Se Siente”, que desde
2014 os argentinos não param de cantar no Brasil. Há de se destacar, aliás, a
festa proporcionada pelos dois lados antes do jogo. Os argentinos, mais
histriônicos como sempre, deram o impulso para a resposta dos donos da casa que
fizeram questão de citar os “Mil gols de Pelé” e a falta de Copas de Messi.
O jogo começou da forma que mais favorecia a Argentina,
brigado, com divididas ríspidas. Os visitantes se animaram e levaram perigo em
chute de longe de Paredes. O novato técnico Lionel Scaloni havia dito na
véspera que queria fortalecer o meio-campo e vinha obtendo sucesso. Mas
justamente quando o Brasil dava sinais de nervosismo, encontrou seu gol graças
à experiência de um de seus líderes. Sob pressão da marcação, Daniel Alves saiu
costurando com enorme calma – ou aquela qualidade que os argentinos costumam
definir como ‘jerarquia’ – e passou para Roberto Firmino, que com ótimo
passe, ofereceu o gol à Gabriel Jesus. Alívio e festa no Mineirão.
A Argentina, no entanto, também tinha atletas cascudos e
perigosos, sobretudo no ataque. Aos 28 minutos, uma cabeçada de Sergio Agüero,
depois de cruzamento de Messi, acertou o travessão e provocou gritos de pavor.
Aos 34 minutos, Lionel foi Messi pela primeira vez em toda a Copa América.
Puxou um contra-ataque com velocidade, bola colada ao pé, e serviu Agüero, que acabou
travado na hora por Marquinhos. Pouco depois, Messi voltou a arrancar suspiros
de admiração, até mesmo dos brasileiros, ao ludibriar três marcadores em um
giro.
O primeiro tempo terminou de forma preocupante para a
seleção brasileira. Tanto que Tite mexeu já no intervalo, algo pouco usual em
sua carreira: saiu Everton “Cebolinha”, muito tímido, e entrou Willian, que
assumiu a camisa 10 depois do corte de Neymar, presente no estádio, assim como
o presidente Jair Bolsonaro. Mas foi a Argentina quem assustou primeiro, em
chute de esquerda do jovem Lautaro Martínez, destaque do time no torneio. O
Brasil chegou perto do segundo, novamente em jogada iniciada por Daniel Alves;
Gabriel Jesus deu belo giro e a bola chegou a Coutinho que, de frente para o
gol, chutou por cima. A Argentina, no entanto, levou ainda mais perigo quando
Messi invadiu a área e chutou forte, na trave; na sobra, o craque ainda achou
espaço e seu passe atravessou toda a área.
Neste momento, Daniel Alves era o único atleta destacável na
seleção brasileira, com a frieza que faltava em todos os colegas. A situação
ganhou ares de drama quando Marquinhos, um dos melhores atletas do campeonato
deixou o campo com lesão muscular. Ele teve seu nome gritado pela torcida e deu
lugar a Miranda. Lionel Scaloni mandou a campo outra de suas referências, Ángel
Di María, na vaga de Acuña. Minutos depois, Messi teve uma chance de ouro, e
cobrança de falta sofrida por ele próprio na entrada da área. O craque cobrou
muito bem, como de costume, mas Alisson defendeu com incrível segurança e
recebeu o carinho das arquibancadas.
E quando a Argentina mais se animava, o Brasil matou o jogo
em lance de força e inspiração de Gabriel Jesus. O atacante do Manchester City
venceu seu colega de clube Nicolás Otamendi, cortou para o meio e devolveu a
Firmino a gentileza do primeiro: 2 a 0. A Argentina, então, perdeu a cabeça e
apelou para a violência. A torcida, até então desconfiada, gritou “timinho” e
“eliminado” para os argentinos”. Jesus, que ainda não havia marcado no torneio,
viveu seu momento de consagração e deixou o campo ovacionado. Com sufoco, deu a
lógica no Mineirão.
Foto: Washington Alves/Reuters
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