Mourão sobre Amazônia: “não se pode fugir da nossa legislação ambiental”
O presidente interino da República, Hamilton
Mourão, defendeu o respeito à legislação ambiental e a repressão a
atividades ilegais na Amazônia.
Em entrevista à Globo News exibida neste domingo, 8, mas gravada
antecipadamente, o general mostrou-se preocupado com o impacto negativo dos
incêndios e do desmatamento na floresta amazônica sobre o agronegócio
brasileiro, uma das poucas atividades brasileiras que já está inserida na chamada
Economia 4.0, baseada no conhecimento.
“Não se pode fugir da nossa legislação ambiental. Temos uma
legislação importante”, afirmou Mourão, que conduz a Presidência a partir desde
domingo, enquanto o presidente Jair Bolsonaro está hospitalizado. “Aquilo que é ilegal tem
que ser reprimido”, completou.
Mourão afirmou que o episódio conhecido como Dia do
Fogo, em 10 de agosto passado, “tem de ser investigado”. Tratou-se de um
movimento supostamente conduzido por fazendeiros da região de Novo Progresso
(PA) por meio do Whats APP para atear fogo em áreas florestais. As mensagens
apontavam que o objetivo era “mostrar para o presidente (Bolsonaro) que
queremos trabalhar, e o único jeito é derrubando” a floresta”. Segundo o
presidente interino, a região onde se deu essa convocação é um “faroeste”.
O general explicou que a maior parte das irregularidades
ocorre nas áreas de transição entre o bioma amazônico e a Amazônia Legal. Ali
atuam grupos de madeireiros, grileiros e garimpeiros – às vezes os três em
conjunto. “Compete ao governo atacá-los. O garimpeiro é o bandeirante moderno,
que vai atrás da riqueza. Se você for para a Venezuela e para a Guiana, vai
encontrar Exércitos de garimpeiros brasileiros”, explicou.
As atividades legais devem ter sinal verde, em sua opinião.
Da mesma forma, os indígenas devem ser autorizados a explorar economicamente em
suas reservas, também de acordo com a legislação.
Durante a entrevista conduzida pelo jornalista Roberto
D’Avila, Mourão esforçou-se para explicar atitudes e declarações do presidente
Bolsonaro, que têm gerado polêmicas e potenciais prejuízos para o Brasil.
D’Avila lembrou-se da frase de Bolsonaro em favor da redução de multas
ambientais, de seus ataques ao candidato peronista à eleição na Argentina, Alberto
Fernández, e da retórica agressiva do presidente em outros temas. Questionado
se conseguia conversar com seu chefe, Mourão atalhou:
“Consigo. Converso com ele, quando necessário. Ele me diz:
Tu pode (sic) entender de Exército, mas de política entendo eu”, declarou o
general, rindo. Mourão destacou que, com suas declarações, Bolsonaro adota uma
estratégia própria de comunicação. “É ele quem pauta as notícias”, afirmou.
China
Mourão afirmou que, na licitação da internet 5G, programada
para este final de ano, o Brasil tem se de mostrar “pragmático e flexível e
buscar o interesse nacional”. Para ele, a empresa e o Brasil têm de se
beneficiar mutuamente pelo contrato que será assinado.
Entre os concorrentes estará a companhia chinesa Huawei, a
maior detentora dessa tecnologia, que vai direcionar a próxima revolução
industrial. Os Estados Unidos, no entanto, pressionam o Brasil a vetar a
participação da Huawei.
Milícias
Questionado sobre o risco para a Nação da atuação das
milícias, sobretudo no Rio de Janeiro, Mourão afirmou que o combate a esses
grupos e aos traficantes “transbordou” o aparato policial. Ele afirmou que a
solução passa pela mudança na legislação penal, que considera leniente, pela
discussão sem emoções sobre os crimes cometidos por menores, pela reforma do
sistema penitenciário – “não podem haver masmorras nem áreas de lazer” -, pelo
investimento no aparato policial e pela questão social.
“A guerra se dá no meio do povo. As quadrilhas botam a
população na rua e abrem fogo”, declarou.
Argentina
Dono de linguagem polida, o presidente interino coincidiu
com Bolsonaro que a vitória de Fernández na eleição de 27 de outubro “vai
ser uma tragédia argentina”. Ele explicou que o governo brasileiro tem muita
“simpatia” com a administração de Mauricio
Macri, que concorre à reeleição com chances menores que as de seu
adversário peronista. Fernández tem como companheira de chapa a
ex-presidente Cristina Kirchner.
Para Mourão, Macri não conseguiu segurar as repercussões das
reformas na população argentina. “Nós também sofremos pressão enorme, mas não
podemos entregar as contas”, afirmou.
O presidente interino indicou estar incondicionalmente ao
lado de Bolsonaro. “Quando ele sair do avião, eu saio com ele”, disse.
Valendo-se da célebre frase do ativista americano dos direitos civis Marthin
Luther King, ele disse ter um sonho de ver o país seguir um rumo de
prosperidade e de tirar a população da miséria. Mas esquivou-se de responder
qual medida assinaria na Presidência.
Dentre suas preocupações na região estão a difícil mudança
noregime
venezuelano e a retomada das ações violentas da Força
Armada Revolucionárias da Colômbia (Farc).
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