SEGUE A CRISE: Ciro diz que Tabata faz ‘dupla militância’: ‘Ninguém pode servir a dois senhores’
O ex-ministro Ciro Gomes, que disputou a
Presidência pelo PDT em 2018, voltou a defender que a deputada Tabata
Amaral (PDT-SP) e outros parlamentares que votaram a favor da reforma
da Previdênciadeixem espontaneamente o partido.
Em entrevistas ao Estadão/Broadcast Político e
à Rádio Eldorado, Ciro afirmou que Tabata e seus colegas tiveram a
oportunidade de apresentar sua posição em “inúmeras reuniões” convocadas pela
sigla para tratar do tema. Mas a deputada, segundo ele, não manifestou qualquer
intenção de endossar o texto do governo Jair
Bolsonaro até a antevéspera da votação.
Ao justificar a sugestão, Ciro ressaltou que a decisão de
deixar a sigla deveria ser tomada pelos colegas não apenas “pelo passado”, mas
também “pelo que está por vir”. Ele citou a perspectiva de votação de outros
projetos, como a reforma tributária e privatizações.
“Ninguém pode servir a dois senhores”, afirmou Ciro, lembrando que ele
próprio trocou sucessivas vezes de partido. “Eu acho que o mais digno - não
quero particularizar nela (Tabata), porque foram ela e mais sete – é fazer o
que eu fiz. Me filiei e ajudei a fundar o PSDB, que tinha um programa lindo,
que tinha uma série de propostas muito sérias, foi para o governo e fez o
oposto. Chafurdou na corrupção, nas privatizações, na roubalheira. O que fiz?
Saí.”
Ciro descreveu Tabata como uma pessoa de “enorme
valor” e dona de uma “história linda”. Mas disse ver na postura da deputada uma
influência de sua proximidade com movimentos de renovação política, como
o RenovaBR. “Ela só tem 25 anos. E ela entrou no Brasil nesse negócio que
é dupla militância. Ela pertence a alguns movimentos que são financiados pelos
miliardários brasileiros e que colocaram a faca no pescoço de todo mundo”,
afirmou.
Citando ainda o Movimento Brasil Livre (MBL) como exemplo dessa tendência, Ciro disse que esses
grupos correspondem a “fraudes”, pois operam como partidos políticos sem
precisarem abrir mão do financiamento privado. “Vai ser um sofrimento eterno a
dupla militância dela e de quem mais vier com esse papo furado.”
‘Nós não queremos
representar os neoliberais’, diz Ciro
Ciro confirmou que a Executiva Nacional do PDT começará a
analisar o caso dos oito parlamentares na quarta-feira, 17, e que serão
respeitados todos os trâmites internos, entre eles o direito de defesa.
Questionado se o PDT deveria requerer os mandatos desses deputados caso eles
optem por deixar a legenda, Ciro disse preferir não entrar “nessa miudice”.
Segundo ele, seu posicionamento não é sequer em favor da punição desses
deputados, refletindo apenas sua própria convicção.
“Não quero aqui retaliar a Tabata. Mas daqui a pouco essa
gente vai propor por exemplo a entrega da Petrobrás. Qual é a posição dela?
Daqui a pouco essa gente vai propor a autonomia do Banco Central, para
entregar de vez a economia brasileira aos quatro bancos privados que
monopolizam 85% das transações financeiras. Como ela vai votar? Pela linha do
partido ou pela dupla militância que ela está demonstrando”, disse Ciro. “Nós
não queremos representar os neoliberais. Tem aí o MBL. Por que ela não vai para
o MBL?”, ironizou.
Segundo Ciro, o PDT está “muito machucado” com as
dissidências na votação da reforma. O ex-ministro ressaltou que sempre
trabalhou junto com o partido pela renovação política, tendo inclusive
recrutado e pedido pessoalmente dinheiro para a campanha de Tabata. “Que
ninguém me confunda com um velho reativo à chegada dos jovens.”
Ciro afirma que
‘Eduardo Bolsonaro é um imbecil, com um português muito ruim’
Ciro também falou sobre a possibilidade de o
presidente Jair Bolsonaro nomear o filho Eduardo, deputado pelo PSL
paulista, como embaixador em Washington. “O Eduardo Bolsonaro é um imbecil, com
um português muito ruim, o que quer dizer que o inglês também não deve ser muito
bom. Ele vai ter que se expressar sobre temas sofisticados por meio de
tradutores, ocupando aos 35 anos mais quatro dias o lugar mais complexo,
delicado e difícil da diplomacia de qualquer lugar do mundo: a representação
junto aos Estados Unidos. Experiência anterior: policial”, disse Ciro.
O ex-ministro disse acreditar que o governo Bolsonaro age
para criar uma “distração”, com o intuito de desviar as atenções do debate
sobre a reforma da Previdência. Ele comparou a possível indicação à
ideia de escalar um “malabarista” para conduzir um procedimento cirúrgico. “Eu, por
exemplo, amo os malabaristas. Mas não entregaria a um deles meu filho para
fazer uma cirurgia de apendicite”, ironizou.
Estadão via MSN
Taba Benedicto/Estadão

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