OPINIÃO: 'Humanos desumanizados' zombam da morte e buscam ‘curtidas’ na dor alheia
A morte trágica e precoce de Gabriel Diniz nos leva a mais
uma vez constatar um realidade triste, doentia e que carece urgentemente ser
modificada: vivemos em uma sociedade putrefata e cada vez mais desumana. Abandonamos o amor e temos deixado o ódio vencer!
Essa triste verdade é constatada por duas coisas
terríveis: 1° o sem número de pessoas que publicam fotos e vídeos dos corpos de
Gabriel e dos outros mortos na tragédia; 2° pessoas comemoraram a morte do
cantor pelo fato dele supostamente ter votado em Jair Bolsonaro.
Por várias vezes já disse como fico indignado com essa
exposição terrível, com a banalização desgraçada que as pessoas fazem dos
corpos de daqueles que acabaram de perder a vida. É nojento,
asqueroso e desumano expor o outro em situação de morte, apenas por alguns minutos
de fama ou por essa satisfação nefasta em escancarar o fim trágico da vida.
Eles não pensam nos parentes? Eles não têm a menor empatia? Não
sabem o que é compaixão? Eles querem apenas visibilidade e fama? Querem apenas
parecer especiais por darem ‘em primeira mão’ as fotos da dor? Abutres!
Abutres covardes!
E os que comemoram a morte de alguém porque ele teoricamente
teria votado nesse ou naquele candidato? Eles são doentes! Aliás, estão mortos em vida, são
cadáveres andantes. São pessoas sem o menor amor próprio e por assim
serem, são incapazes de se colocar no lugar do outro, de respeitar as dores de
quem perdeu gente querida.
É triste a realidade de uma sociedade brinca com a morte,
que expõe a dor do outro ou que tripudia e demonstra um sentimento vingancista
pela morte de qualquer ser humano. Vocês são os representantes mais horrendos
de uma sociedade apodrecida moralmente, de uma nação que perdeu a vergonha, o
amor e o rumo. Vocês são o retrato de um país onde o amor parece morrer a cada dia.
Quando perdemos o bom senso, o amor, o respeito? Quando
deixamos de olhar para o outro e apesar do que nos torna diferentes, vermos a
igualdade de sermos humanos? Quando nos sentimos no direito de comemorar a
morte de um menino de sete anos de idade, simplesmente porque era neto de um
político que a gente não gostava? Ou não lembramos que fizeram isso com o neto do Lula? Quando achamos que um jovem de 28 anos
merecia morrer de forma trágica porque teoricamente ajudou a eleger um
presidente que a gente não queria?
Não, esse não é o texto de um fã do Gabriel Diniz. Não ouvia
suas músicas, não tinha a menor relação com sua arte. Mas tenho plena convicção
de que seja ele quem fosse, gostasse do que gostasse, cantasse a música que
fosse, ele carregava sim a imagem e
semelhança de Deus. E aprendi a não me alegrar com a dor de ninguém, aprendi a
chorar com os que choram e me alegrar com os que se alegram.
Lamento a morte de Gabriel e das outras pessoas naquele
avião, mas também lamento pelos ‘monstros’
que têm sido ‘gerados’ em nossa
sociedade.
Não importa a ideologia política, o credo, o time de futebol... Não importa qualquer escolha pessoal, a morte de ninguém deve
ser comemorada. Se não é capaz de sentir compaixão, se não tem empatia, apenas
cale-se e respeite a dor alheia.
Sem pontos, vírgulas, reticências. Apenas com muita
indignação e vergonha pela sociedade que nos tornamos.
Caco Pereira

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