Gregório Duvivier sugeriu a hacker nomes da alta cúpula da Globo, diz PF
O humorista Gregório Duvivier protagonizou conversas
amistosas com o hacker Walter Delgatti Neto, responsável por roubar mensagens
privadas de autoridades da República, e sugeriu nomes de figurões da Rede Globo
como possíveis alvos das interceptações, segundo relatório da Polícia Federal
encaminhado à Justiça Federal.
O primeiro contato entre Delgatti e Duvivier, diz a PF,
ocorreu no dia 14 de julho de 2019. No computador do hacker foi encontrado um
atalho chamado “GREGORIO DUVIVIER.Ink” com diálogos do humorista obtidos dentro
do aplicativo Telegram. O teor das conversas foi encaminhado pelo hacker a
Duvivier, que respondeu com ironia. “Feliz de conhecer o hacker”, disse no fim
da manhã daquele dia 14 de julho.
Na troca de mensagens entre Delgatti e Duvivier, o humorista
recebe a informação de que o teor das mensagens de autoridades hackeadas foram
passadas ao jornalista Glenn Greenwald por “livre e espontânea vontade” e, na
sequência, estimula o hacker, afirmando que ele iria “mudar o destino do país”
ao revelar as conversas impróprias de procuradores da Lava-Jato e do então juiz
e atual ministro da Justiça Sergio Moro.
Na sequência, Duvivier pergunta se haveria algo de
comprometedor contra a família do presidente Jair Bolsonaro – ou, em suas
palavras, sobre a “família bolso”. Diante de uma resposta negativa, o
comediante instiga o hacker sobre outras potenciais vítimas. “Tem algo da
Globo?”, questiona Duvivier.
Na conversa, Walter Delgatti Neto diz que “tem bastante”
informação envolvendo a emissora de televisão e afirma que “pega 50 por dia e
acaba não lendo”. Em seguida, relata uma espécie de frustração. Diz que havia
“pegado” o aplicativo do apresentador do Jornal Nacional William Bonner, mas
não teve acesso a nenhum conteúdo, porque tudo havia sido apagado. Deletar
mensagens era uma prática que “muita gente” utilizava, lamentou o hacker.
Duvivier continua indicando novos alvos globais como o
diretor-geral de Jornalismo Ali Kamel e o diretor-geral da emissora Carlos
Henrique Schroder e diz que informações sobre a cúpula da emissora “poderia ser
bem forte”. O humorista ainda sugere que o governador do Rio de Janeiro Wilson
Witzel e o juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava-Jato no estado,
“poderiam ser alvos”.
De acordo com a Polícia Federal, não foram encontrados
indícios de que Kamel, Schroder ou Witzel tenham sido vítimas de ações dos
hackers. Marcelo Bretas e William Bonner, no entanto, acabaram caindo na rede
de ataques, apesar de a invasão nos aparelhos celulares deles terem ocorrido em
data anterior à sugestão de Duvivier. Na conclusão do inquérito, não há
imputação de crimes a Gregório Duvivier.
Em depoimento aos investigadores da Operação Spoofing, o
ator e humorista negou que tenha solicitado ou sugerido a invasão das contas de
Telegram da cúpula da Rede Globo ou de autoridades do Rio de Janeiro. Segundo
ele, seus questionamentos ao hacker eram motivados por “curiosidade” em saber
se o invasor tinha tido acesso às contas de uma série de personalidades do
cenário nacional.
De acordo com a Veja, Duvivier declarou que, durante a conversa com Delgatti,
sugeriu diversos nomes de forma aleatória e disse que em nenhum momento recebeu
mensagens ou qualquer informação das pessoas citadas por ele. Conforme a versão
apresentada por ele à Polícia Federal, ele não tinha nenhum interesse em obter
o conteúdo das mensagens de contas invadidas e em nenhum momento o hacker disse
ter invadido a conta de Telegram de pessoas como Bonner ou Ali Kamel.
Gregório Duvivier apresentou à PF a cópia de um pendrive com
todas as mensagens trocadas entre ele e o hacker Walter Delgatti Neto. Nelas,
uma revelação sobre o comediante: a de que ele teria recebido orientações do
jornalista Gleen Greenwald para que não encomendasse o nome de nenhuma
autoridade para ser hackeada. Às 13:36:41, Duvivier é explícito sobre a
orientação que recebeu: “nao tava pedindo pra investigar ninguem ta [sic]?”.
Menos de um minuto depois, o ator faz nova ressalva: “glenn me explicou que nao
posso nem falar nomes, haha”.
Procurado, o advogado Augusto de Arruda Botelho, que defende
Duvivier, afirmou que o humorista disponibilizou espontaneamente para a Polícia
Federal toda a troca de mensagens com o hacker e que “explicou detalhadamente
em seu depoimento, no intuito de colaborar com as investigações, que
aleatoriamente mencionou uma série de nomes, em uma conversa informal, sem
qualquer intenção ou interesse de que tais nomes de fato fossem interceptados
ou muito menos investigados”.
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