OPINIÃO: Bebês nos lixões e 'carniceiros' buscando visibilidade
Hoje li duas notícias que abalaram demasiadamente a minha
alma. Ambas falavam sobre abandono de corpos de crianças recém-nascidas em lixões.
Uma no Rio Grande do Norte e outra no Cariri Paraibano. A morte de qualquer
pessoa sempre me abala, mas de crianças me dilacera a alma de um modo
indizível.
Não há ainda explicações se os bebês são natimortos ou se
foram assassinados e abandonados nos lixões. Sejam quais forem as respostas,
elas nos levam a um cenário de desesperança e imenso desamor. Não me porei aqui
como juiz acerca dos autores dos fatos. Não sei as circunstâncias, não conheço
as dores dessas pessoas, não sei sobre suas vidas e o que aconteceu até que
chegassem a jogar seus filhos em lixões. Lamento profundamente por tudo isso.
Espero sinceramente que os casos sejam solucionados e que os puníveis, punidos
sejam.
Mas outra coisa me chamou atenção e causou imenso impacto em
meu coração. Vi postagens nas redes sociais, fotos em um ou outro grupo e recebi
vídeo do momento em que uma das crianças é encontrada. Eu sou pai. Dos meus
filhos, dois ainda são pequenos e uma está prestes a nascer. Ver o corpinho de
uma criança morta e exposta daquele modo é algo que mói o coração e corrói a
alma em uma dor destruidora.
Não compartilho e não tenho menor interesse em receber fotos
ou vídeos de pessoas mortas, atropeladas, mutiladas, vítimas de tiro, de arma
branca, enfim, não tenho interesse em receber exibição das dores alheias. Não sou carniceiro! Não me alegro e não tenho
a menor curiosidade com essas cenas.
Causa um misto de espanto e indignação que os maiores
propagadores desse tipo de imagem sejam ou pretendam ser agentes da informação
(jornalistas, blogueiros, repórteres...). E eles fazem isso em nome da
audiência. Expõem corpos em nome da ‘informação’. Não compreendem que
vilipendiam o que o ser humano tem de mais belo, o próprio corpo.
São o que chamo de ‘carniceiros das dores’. Eles zombam e
sobrevivem da dor, do lamento, da morte, da perda e do pranto das pessoas. Eles
sentem cheiro da dor, são guiados pela morte cruel e simplesmente a expõem para
que outros carniceiros ‘consumam’ de modo sórdido, a dor que é espalhada. Fazem
isso como se tivessem mostrando algo belo, como se expusessem uma obra de arte,
uma fantástica construção. Tratam a dor e a morte como uma grande brincadeira.
Esse abutres da informação agem numa ensandecida, imbecil e
cega disputa pelo sucesso, pela visibilidade, pelo primeiro lugar. Não refletem
e não conseguem se enxergar como o que realmente são, meros propagadores de
dores e desamores.
Não publicamos esse tipo de imagem no CANAL DO POVO. Ah! Mas
isso rende click, isso dá acesso, aumenta o número de seguidores – alguém poderia
dizer. Respondo com muita paz: Não tenho
o menor interesse em ser seguido por quem se alimenta da dor, do desamor e da
morte! Não tenho o menor interesse em aumentar os acessos do CANAL DO POVO com
base na exposição de corpos. Não sou abutre. Não faço jornalismo zombando de
quem perdeu gente que ama.
Acredito de verdade que a notícia não precisa ser ‘coberta
de sangue’. Respeito pais, mães e filhos que perdem os seus. Não gostaria de
ver os corpos de quem amo sendo expostos desse modo.
Por isso esse texto é muito mais que uma ‘opinião’. Na
verdade ele é um desabafo, um grito contra quem espalha e contra quem ‘consome’
esse tipo de execração ao corpo humano.
Ponto.
Caco Pereira

Nenhum comentário: