OPINIÃO: O circo de Lula
“Alô criançada... o Lula chegou! Trazendo alegria pra vocês
e o vovô!”. Mas é só assim. É só dentro desta perspectiva que dá para aguentar
a entrevista que Lula concedeu aos jornalistas Mônica Bérgamo e Florestan
Fernandes, para que esse conteúdo encomendado rodasse meio mundo no afãm de
produzir emoções, soluços, discursos e odes a um dos políticos mais cara de pau
que o planeta já teve.
Veja você. O Brasil é de fato muito pródigo em esquisitices
como essa. Um ministro da mais alta corte, concede a um presidiário, conhecido
e condenado inclusive pelo próprio tribunal a que pertence o tal ministro, a
autorização para confirmar as mais esdrúxulas teorias conspiratórias dos
últimos tempos. Lembre você que o excelentíssimo magistrado foi indicado pelo
condenado. Também não foi aberta a entrevista para outros jornalistas ou
emissoras. Apenas para os ungidos acima referidos. Abre aspas: “Esclareço que a
decisão da Corte restringe-se exclusivamente aos profissionais da imprensa
supra mencionados, vedada a participação de quaisquer outras pessoas, salvo as
equipes técnicas destes, sempre mediante a anuência do custodiado”, disse o
ministro.
Vamos então às verdades que só os militantes, simpatizantes,
inteligentinhos, compassivos e brasileiros da esquerda de bem conseguem
enxergar na figura divinal do [ainda para este grupo] presidente Lula: “Lula
foi condenado sem provas, por Sérgio Moro, cuja missão de vida é atrapalhar o sonho
do Brasil mais solidário, agente da Cia que é, em conluio com aquele filho da
mãe do Dall’Agnol. O Brasil está sendo governado por um bando de loucos,
assassinos, reacionários e bandidos da pior espécie, que, em associação com
milicianos e com o grande capital internacional, estão levando o Brasil para a
vala”. Desta infeliz argumentação ginasiana, cujo conteúdo lembra redação de
Ensino Médio, não escapa quase ninguém: magistrados, professores
universitários, jornalistas, publicitários, médicos, filósofos, sociólogos...
enfim... uma plêiade de consciências destacadas endossa o coro Lula Livre,
enquanto que o povo, este que essa mesma plêiade diz estar sofrendo e saudoso
do “presidente que mais fez na história deste país”, brada “Lula ladrão seu
lugar é na prisão!”. Como você vê, quando a intelligentsia pira e o povo,
preservado pelo senso comum, guarda o que restou do bom senso, você compreende
que a coisa ficou séria.
E o pior é que a loucura realmente tomou conta de Lula que,
dedo em riste, reiterou tim-tim por tim-tim o discurso que embala o delírio
coletivo de que é perseguido político aqui no Brasil. Essa ladainha política
inspira viúvas Brasil afora, de correligionários a autoexilados
estrategicamente amparados em países que só entendem de mazelas em nível
conceitual. Se cobrirmos todo este estado de coisas com uma lona, o circo não
terá dia nem hora para acabar.
Na prática, porém, a realidade é outra e bem diferente. E
não tem um pingo de graça. Pois um país quebrado, uma geração perdida, 13
milhões de desempregados e toda uma gigantesca estrutura de coisas e de pessoas
incapazes de reagir de modo racional a uma riqueza tão grande de provas,
delações, contratos, cifras e personalidades públicas, não tem nada de
engraçado.
Esperamos que espetáculos como este da entrevista do
encarcerado mais ilustre de Curitiba, que enganou a meio mundo, inclusive a
muitos que hoje encampam ferrenha oposição a sua pessoa, seja filho único, de
mãe solteira, incapaz de se repetir neste tempo e no vindouro.
É que as mentes, almas e corações daqueles que não possuem
bandidos de estimação sofrem, brigam, se revoltam e se desesperam, porque
sentem que o picadeiro da burrice política está longe de acabar no Brasil.
Tomara Deus, contudo, que como num passe de mágica – assim como num circo –
tudo acabe da melhor forma possível e estejamos enganados.

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