O que a vitória de Davi Alcolumbre significa para o governo Bolsonaro
O jovem senador Davi Alcolumbre, de 41 anos, foi eleito
neste sábado (02) o novo presidente do Senado para o biênio 2019-2020 em
primeiro turno, com 44 de 77 votos registrados.
O caminho para a vitória foi atribulado: ontem, a sessão
inicial foi suspensa após impasses diante da presidência da Mesa e da decisão
da maioria por declarar voto aberto.
Alcolumbre era o único membro remanescente da Mesa anterior
e por isso assumiu a liderança da sessão e se recusou a levantar da cadeira por
sete horas.
Ele foi criticado por conflito de interesses por já ter
declarado publicamente antes que era ele mesmo candidato.
A sessão voltou hoje com nova polêmica, primeiro sobre voto
fechado (garantido em regimento interno e reafirmado por decisão de Toffoli, do
STF) e depois com uma votação que deu errado.
Foram registradas 82 cédulas para 81 senadores, gerando uma
acusação de fraude até agora não esclarecida.
Foi na segunda votação que Davi ganhou, agora sem a
concorrência do antes favorito Renan Calheiros, que se retirou no meio da
disputa.
Quem ganha
O resultado de hoje é uma vitória política para o DEM, que
também ganhou a liderança na Câmara dos Deputados (com Rodrigo Maia), e enterra
as pretensões do antes todo-poderoso MDB de manter algum núcleo forte de poder
no governo Bolsonaro.
Um dos grandes vencedores da noite foi o ministro da Casa
Civil, Onyx Lorenzoni, também do DEM e padrinho político de
Alcolumbre. A mulher de Lorenzoni trabalha no gabinete dele.
Ciente dos erros de Dilma Rousseff em 2015, que atuou
abertamente por seus correligionários e acabou recebendo de presente Eduardo
Cunha, Lorenzoni atuou de forma discreta e nos bastidores por Alcolumbre.
Sustentou uma neutralidade pública até o fim, mas assim que
a vitória foi anunciada, comemorou abertamente fazendo referência ao episódio
bíblico de Davi contra Golias.
Já a equipe econômica, na contramão de Onyx, via a
experiência de Renan Calheiros como um ativo na articulação das reformas.
Christopher Garman, diretor da consultoria americana de
risco político Eurasia, acha que o governo navegou mal no Senado e na
Câmara, mas não acredita que isso vá comprometer a agenda econômica. Tanto
Alcolumbre quanto Maia defenderam as reformas em seus discursos de vitória.
Fernando Schuler, professor do Insper, diz que a perspectiva
é favorável para a aprovação de uma reforma da Previdência já no primeiro
semestre.
Transparência
Para Garman, o resultado de hoje também mostrou um Congresso
mais sensível à opinião pública, que se manifestou amplamente via redes sociais
contra a candidatura de Renan Calheiros (MDB).
Ao longo do dia, termos como #EnterrodeRenan ficaram em
destaque nos trending topics do Twitter. Nesse sentido, a questão do voto
aberto foi essencial para constranger quem apoiava Renan.
Apesar da decisão do STF garantindo o sigilo, como prevê o
regimento, na medida que mais e mais senadores fizeram o voto aberto ficou
claro que seria impraticável fazer punições formais.
Flávio Bolsonaro, que se vê embrenhado em denúncias de
corrupção sobre seu período como deputado estadual, foi o caso mais simbólico.
Na primeira votação, ele não declarou seu voto: disse nas
redes sociais que quis preservar o pai, mas especula-se que tenha negociado uma
proteção de Renan.
Após críticas, chegou na segunda votação apoiando Alcolumbre
e foi justamente nesse momento que Renan subiu na tribuna para se colocar como
guardião da democracia e retirar sua candidatura.
A questão é que se a oposição a Renan foi o que uniu o bloco
Alcolumbre, é difícil prever como atuarão em outras pautas.
“O grupo que elegeu Alcolumbre tem gente da direita à
esquerda que se aliaram com a missão anti-Renan. O grupo foi coeso só até a
vitória mas ela encerrada, o Senado se fragmenta”, diz Thiago Vidal,
gerente de análise política da consultoria Prospectiva.
O Senado começa a sua legislatura disperso e cheio de
novatos. No Senado, das 54 vagas, 46 estão ocupadas por novos nomes, uma
renovação de mais de 87%. Na Câmara dos Deputados, a taxa é de 52% dos
parlamentares eleitos.
O número de legendas representadas no Senado subiu de 15, em
2015, para 21 agora. As novidades incluem o Podemos, PSL, PHS, Pros, PRP,
PTC e o Solidariedade. Todos não tinham representantes em 2015 e agora têm um
cada.
Com as manobras de ontem e hoje, Renan foi de possível
aliado com afagos ao governo Bolsonaro a um inimigo e possível líder da
oposição nos corredores do Senado. A partir de segunda-feira, sua força será
testada.

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